quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Epifania


                Nosso cérebro busca o equilíbrio (Piaget). A liberdade causa angústia (Sartre). A espontaneidade é socialmente perigosa (Freud via Sennet), portanto repulsiva no intimo da psique do homem urbano (Sennet). Resta-nos afirmar que temos a necessidade de inventar uma a teia de significados (já dissecada por Norbert Elias) para nos afastar da liberdade e fornecer uma falsa felicidade. Já que, de forma plena ela nos é impossível visto que a tristeza é o padrão para a atual sociedade ocidental (Freud). 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O que somos?


Mais um dia chegou
E com ele, o hoje.
Mais um dia chegou
E mais uma vez podemos ser.

Somos novos,
Somos velhos,
Brancos, pretos, amarelos...
Pequenos, grandes, médios,
Retos ou circunflexos,
Animados ou cansados,
Somos mesmo o nosso reflexo?

Um novo dia é hoje
E por isso, somos diferentes de ontem.
O dia de hoje é novo,
E por isso, podemos, mais uma vez, sermos.

O que realmente somos?
Estamos realmente sendo?
Como somos realmente?

Precisamos ser quem somos de verdade!
Precisamos refletir nosso verdadeiro ser!
O hoje vem todo o dia
E mais uma vez temos a chance
De ser Humano.

domingo, 20 de janeiro de 2013

PARQUE



Qual a definição de metrópole? Lugar de aglomeração de importantes e respeitáveis cidadãos? Ambiente habitado por população excedente de seres humanos numa região diminuta e poluída? Local com a presença de altas construções que beiram o inimaginável? Espaço para exploração da condição humana? Uma metrópole parece, em resumo, território de indiferença, irresponsabilidade, egocentrismo e preguiça.
            Dois amantes muito parecidos são alvejados por olhares furtivos nas voltas de um parque logo ao anoitecer. O desprezo vence a apatia. Olham todos, muitos, recalcados fuzilando o espírito livre de seres amantes. De mãos dadas seguem dois rapazes trocando carícias pela ruela do parque de preservação da flora e fauna local a muito esmagada pelos anos do progresso. Um lugar de contraste e fúria.
            Passam os dois rapazes amantes de mãos dadas ao lado de um jovem maltrapilho deitado com as voltas das costelas a mostra para a lua, única a se importar. E os demais olham a cena bizarra: dois homens feitos, barbados, de mãos dadas, compartilhando afagos.
            Comentários sorrateiros entre os transeuntes ofendidos. Imagens criativas de pernas peludas se tocando endossam a maldade das falas. Um absurdo! Um ultraje. Está cada vez mais frequente encontrar tais subversores da moral andando livres e faceiros nessas bandas. Não há mais lugares para reunir a família nessa cidade. Uma pessoa muito bem resolvida com seu preconceito observa risonha tudo acontecer. Ela sente pena do casal. Mas não muita, pois pouco se importa. No fundo nada importa muito.
            Outro casal contraventor aparece confirmando algumas indignações. Eram agora quatro homens rindo sob um poste baixo, velho, sujo, enferrujado, abandonado de luz amarela. Os homens amarelados parecem se divertir para tristeza da nação. E todos percebem, falando pouco e pensando em demasia a esse respeito. O engraçado é que um menino, jovem, de olhar envelhecido e alma aleijada de fome não vê o estranho no casal. Talvez isso não seja nada ele também parece não ser visto.