Inicio a postagem de contos sequenciais que escrevi. Tenciono voltar a escrevê-los. Vou postar aqui para suas críticas e sugestões, reunir forças para dar continuidade. Abraço.
INTRO
O pequeno é capaz de
feitos tais que a própria terra dividir-se-ia em duas. O poder é algo tão tênue
e subjetivo, transcende a força ou tamanho. Mescla rigor nas palavras e
precisão nas ações. Conto a história de um ser assim.
I - PASSADO NEGRO
A neve não seca apenas
as faias nas terras ao norte do mundo. Qualquer vontade fraqueja no espesso dilúvio
congelado cinzento que corre a esmagar o florescer da vida. Nada mais justo de
a água, mãe da existência, tenha o direito de ser carrasco em terras malditas.
Nenhuma esperança penetra na nevasca, não há caça além de meio dia de caminhada
neve adentro.
Nos ermos ao norte do
mundo um continente de gelo bota limite na terra dos homens. Ventos de navalha
sopram e a solidão congela o coração do viajante antes do ar seus dedos. Um
lugar infernal, intransponível, inabitável.
Todas as alcatéias já
seguiram seu instinto migrando para o sul e nesse tempo um pequeno grupo de
larápios fazia abrigo nas bordas do terreno de gelo árido surpreendendo os
lobos cansados. Os fortes animais foram escravizados e corrompidos pela vileza
de rufiões, desonrados e assassinos daquela região. Tanto homens quanto lobos
tornaram-se animalescos.
Afloraram suas bestas
interiores as feras em comunhão. Aterrorizaram todo um país. Nada os desafiava.
Tinham estatura baixa e alguns até montavam seus lobos. Ferozes, carniceiros e
sedentos. Não seguiam líder ou lei. Endureciam sua conduta mais e mais ao ponto
de serem frios como a neve e firmes como a espada. Não há cura para o ferimento
de uma lamina fora da lei, apenas outra força maior poria fim às desgraças
daquela época.
Alguns heróis fizeram
nome lutando, mas viraram mártir antes de exterminar o mal dos homens lobo.
Campanhas foram feitas, cercos, ataques. As investidas tornavam comum a
brutalidade. Em todas as terras a vida perdia o valor.
O medo inunda os
povoados. Cada objeto de valor carrega uma aura malogra. Músicas monotemáticas
falam de morte. Quilômetros de cercas brotam da terra, jaulas, fossos, armas.
Em nome da paz e da defesa desenvolver-se-ia alta cultura bélica, de ambos os
lados. Fornalhas coravam a terra, fumaças borravam os céus, a procura dos
metais rachava montanhas. O inverno e a noite, antes exaltados pela poesia,
agora usados como tática militar. Dias tristes. As garras desse tempo negro
deixariam sequelas na humanidade para além de muitos séculos.
O tempo, contudo,
trouxe longas barbas às faces dos homens do norte e canseira a seus lobos. Mas
o mal já havia sido feito. Na batalha, às margens da nevasca, onde o ultimo
lobo debandou e o ultimo assassino respirou uma criança nasceu. Ninguém saberia
de sua existência pelos próximos anos. Era filho bastardo de um cavaleiro com
uma escrava do norte. Foi o espólio da guerra. O mestiço. E lá, na beira da
neve interminável abandonado. Sua mãe não viu seu rosto e seu pai nem soube de
sua existência. Muito se especula sobre sua infância. Foi abandonado, criança,
e o único fato conhecido é que sobreviveu. Não tinha tamanho, mas era gigante
em fúria. Um espírito vibrante, olhos azuis vivos e penetrantes e pele branca
como a neve.
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