domingo, 28 de novembro de 2010

Rio Desolado

Rio nos chama
imagens expostas
pois são irretratáveis suas fronteiras

Cristo Redentor
deus-palafita
ponte absolta de uma cidade desolada
onde passos fantasmas
adoradores de máquinas
em linguagem selvagem
serpenteiam


balas
películas cortadas
cadáveres esquisitos

vermes instantes no mapa da vida
um Rio assola o mar desolado
entre-faces
riscos e tochas entrecaminhantes caem…

gotas de infância
goles de jovem
porre de velho

e na floresta
o duende
o anão
o suspiro
de uma cigarra canta
e reconta as formigas do imaginário mar…

dor humana
e junto a ela
a encapuzada noite
se fenda num estalo
se dobra às águas
confabula

e enquanto violentos morcegos revoam
escorridas cisternas gotejam
sublimações ao vento
para que das nuvens cheguem lampejos
chuvas
às flores murchas deste momento

Rio em chamas
um mar de novas orelhas
fim/início…
esquálida história
faíscas esvaídas na memória,
seremos aves a outros fragmentos
flutuantes cânticos ao ar, ao mar, ao Rio de Janeiro.

Carmen Silvia Presotto