terça-feira, 23 de agosto de 2011

Por que eu sou um destino

"Eu conheço meu fado. Um dia haverão de unir ao meu nome a lembrança de algo monstruoso – uma crise como jamais houve outra na Terra, na mais profunda colisão de consciência, em uma decisão evocada contra tudo aquilo que até então havia sido acreditado, reivindicado, santificado... Eu não sou homem, eu sou dinamite. – E com tudo isso não há nada em mim que me torne o fundador de uma religião; religiões são negócios do populacho e eu sempre tive a necessidade de lavar minhas mãos ao entrar em contato com pessoas religiosas... Eu não quero “crentes”, eu penso que eu mesmo sou demasiado mau para acreditar em mim mesmo; no mais jamais invoquei as massas... Eu tenho um medo terrível de um dia ser declarado santo: e até por isso hão de adivinhar porque escrevi este livro antes; ele foi feito para evitar que se cometam disparates em relação a mim. Eu não quero ser um santo, eu prefiro ser um maganão... Talvez eu seja um maganão... E apesar disso ou, muito antes, não apesar disso – pois até hoje não houve nada mais mentiroso do que os santos -, a verdade fala através de mim... Mas minha verdade é terrível: pois até hoje a mentira é que foi chamada de verdade... Transvaloração de todos os valores: esta é a minha fórmula para um ato supremo da autoconscientização da humanidade, que se tornou gênio e carne dentro de mim. Meu fado quer se eu seja o primeiro homem decente, que eu me saiba a antítese contra a mentira de milênios... Só eu é que descobri a verdade, pelo fato de eu ter sido o primeiro a sentir – a farejar – que a mentira era mentira... Meu gênio está em minhas narinas... Eu contradigo conforme jamais foi contradito e ainda assim sou a antítese de um espírito negador. Eu sou um mensageiro alegre, conforme jamais existiu outro, eu conheço tarefas de uma altura para a qual inclusive faltou um conceito até agora; só a partir de mim é que voltaram a existir esperanças... E com tudo isso sou também, necessariamente, o homem da fatalidade. Pois se a verdade entra em luta com a mentira de milênios, haveremos de ter abalos tremendos, uma convulsão de terremotos, uma transposição de montanhas e vales, conforme jamais sequer foi sonhada. O conceito política, então, estará completamente envolvido em uma guerra de espíritos, todas as imagens de poder da velha sociedade explodirão no ar – todas elas descansam sobre a mentira: haverá guerras conforme jamais as houve sobre a terra. Só a partir de mim é que há na terra grande política*...".
(NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. (2003). Ecce Homo. 1ª edição, L&PM Pocket. Floresta - RS.

*Com esse conceito Nietzsche chama a atenção para a “guerra espiritual”, o conflito final e decisivo, que dessa vez não ocorrerá entre povos, Estados ou religiões, mas sim entre as naturezas fracas e décadents, de um lado, e as naturezas fortes, as vidas-que-deram-certo, de outro. E preparar essa “grande política” era a tarefa do Ecce homo. (N. do T.).

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Crescimento

Eu gosto mesmo é do gosto da revolta.
Não estar satisfeito.
Para não ser conformista.

Sei que nunca estarei satisfeito,
Enquanto vivo, estarei sempre tentando
mudar alguma coisa.

Estudando, lutando, gritando.
Traçando rotas, bolando estratégias.
Costumo chamar de luta a batalha intelectual.
Porque violência não é legal
nem no mundo virtual.

Torço para que não precisemos
chegar a um ponto sem escolha.
Pois se esse momento chegar, sacaremos as armas e lutaremos.

Mesmo com a corda no pescoço,
Tenha certeza de que minha última palavra será
LIBERDADE!
.
Guiomar Baccin